Foi à primeira vista. Impactante. Paixão na certa. Ela observou a força dele e preferiu abrir mão. Fugir. Ele a olhava, cada dia um pouco mais de perto. Um papo rápido, coisinhas burocráticas, troca ingênua de telefones, fingindo ser tudo muito superficial. E as faíscas de alta voltagem eletrizando tudo, marca-passo do descompasso.
Ela dá um sinal “Estou aqui na sala ao lado, viu? Espero você voltar do almoço para depois ir.” Enquanto desejava, lá no fundo, sem nem saber que desejava: “se ele me convidar para almoçar vai ser ótimo.” Mas desejava com a mesma intensidade que ele viesse e que não viesse. O alerta de perigo soando dentro dela, na mesma frenética atividade de alguns hormônios que liberam aromas muito especiais. Em alguns minutos, mais rápido do que imaginava, ele bateu na porta e foi um almoço cênico.
O menu recheado de desejo macio e perfurante. Curiosidade e medo. Impulso e refrear-se. Comeram-se ali, junto com o arroz, o feijão, a carne. Uma salada mista de olhares e vontades. Sinais aos milhares, entrelinhas e um cafezinho.
Ela foi fisgada pelo próprio desejo. Vai embora, fingindo-se inabalada.
E na balada, dois dias depois, mais carne, bom papo, bebidas quentes, a temperatura subindo. O que acontece é um reconhecimento e também um desmoronamento.
Ele confessa-se um caçador pré-histórico da modernidade, gosta da diferença, variar de restaurante, de prato principal. Ela, ouvindo, reconhecendo nele o macho predador, é um prédio sendo implodido. Ele é muito doido. Ele é maravilhosamente doido. Queria fugir, mas o primeiro beijo foi morno, perfeito, muito além da razão.
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, disse Vinícius, mas mais do que desencontro, fico me perguntando para onde as pessoas mandam a magia em nome de sua liberdade.
Na nossa história houve mais dois encontros, recheados de sensualidade, prazer e harmonia. Ele queria que ela dormisse na casa dele, mas ela não quis, mesmo querendo. Há muitas variantes.
Depois do terceiro encontro, o telefone não tocou e ela sentiu todo o peso do não acreditar e do comprovar ao mesmo tempo de que tudo o que é sólido desmancha no ar, como o utópico Marx.
E ela começa a pensar mil coisas, deprime-se, pega para si todas as culpas: que teria dado certo se tivesse o corpo mais bonito, se fosse mais segura, se tivesse dormido lá, se tivesse cozinhado, se fosse mais alta, mais interessante, mais selvagem, etc., etc., etc. Nesse redemoinho esquece-se de ver que talvez seja melhor assim.
A gente está por aí, num bar, numa pastelaria, no trabalho e encontra homens. As mulheres desejam os homens, os homens desejam as mulheres, mas os tempos são assim: oferta de sexo fácil aliada ao consumismo transformou tudo em mercadoria descartável e estamos todos por aí fazendo do amor um fast food de péssima qualidade.
Amor, palavra difícil. Amor pode denso, contínuo ou pode ser leve como um encontro casual, o que o caracteriza é que nele há algum sentido de eternidade (mesmo que efêmera).
Eles, atavicamente falando, são caçadores, predadores. Nós, o seu contraponto. A mulher é quem mostra ao homem aquilo que ele não é, e nisso está o sentido da busca e do prazer do encontro.
Estou conversando muito com a nossa ela e perguntando sempre, como mulher: "Queremos ser a carne disponível ou a experiência de troca afetiva que diferencia o ser humano do animal?" Se quisermos ser gente é só poder implodir a cada decepção para renascer igualmente crédula, pois, acreditemos ou não há muitos homens por aí muito cansados de serem tratados como objetos, com estrutura para relacionamentos mais intensos. Mas... isso é assunto para outro texto...
Quanto a ela, bem, acaba de me dizer que está refeita, que logo logo é segunda-feira, o melhor dia para ter esperança e recomeçar.
Um abraço,
Mariana Salerno
Ela dá um sinal “Estou aqui na sala ao lado, viu? Espero você voltar do almoço para depois ir.” Enquanto desejava, lá no fundo, sem nem saber que desejava: “se ele me convidar para almoçar vai ser ótimo.” Mas desejava com a mesma intensidade que ele viesse e que não viesse. O alerta de perigo soando dentro dela, na mesma frenética atividade de alguns hormônios que liberam aromas muito especiais. Em alguns minutos, mais rápido do que imaginava, ele bateu na porta e foi um almoço cênico.
O menu recheado de desejo macio e perfurante. Curiosidade e medo. Impulso e refrear-se. Comeram-se ali, junto com o arroz, o feijão, a carne. Uma salada mista de olhares e vontades. Sinais aos milhares, entrelinhas e um cafezinho.
Ela foi fisgada pelo próprio desejo. Vai embora, fingindo-se inabalada.
E na balada, dois dias depois, mais carne, bom papo, bebidas quentes, a temperatura subindo. O que acontece é um reconhecimento e também um desmoronamento.
Ele confessa-se um caçador pré-histórico da modernidade, gosta da diferença, variar de restaurante, de prato principal. Ela, ouvindo, reconhecendo nele o macho predador, é um prédio sendo implodido. Ele é muito doido. Ele é maravilhosamente doido. Queria fugir, mas o primeiro beijo foi morno, perfeito, muito além da razão.
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, disse Vinícius, mas mais do que desencontro, fico me perguntando para onde as pessoas mandam a magia em nome de sua liberdade.
Na nossa história houve mais dois encontros, recheados de sensualidade, prazer e harmonia. Ele queria que ela dormisse na casa dele, mas ela não quis, mesmo querendo. Há muitas variantes.
Depois do terceiro encontro, o telefone não tocou e ela sentiu todo o peso do não acreditar e do comprovar ao mesmo tempo de que tudo o que é sólido desmancha no ar, como o utópico Marx.
E ela começa a pensar mil coisas, deprime-se, pega para si todas as culpas: que teria dado certo se tivesse o corpo mais bonito, se fosse mais segura, se tivesse dormido lá, se tivesse cozinhado, se fosse mais alta, mais interessante, mais selvagem, etc., etc., etc. Nesse redemoinho esquece-se de ver que talvez seja melhor assim.
A gente está por aí, num bar, numa pastelaria, no trabalho e encontra homens. As mulheres desejam os homens, os homens desejam as mulheres, mas os tempos são assim: oferta de sexo fácil aliada ao consumismo transformou tudo em mercadoria descartável e estamos todos por aí fazendo do amor um fast food de péssima qualidade.
Amor, palavra difícil. Amor pode denso, contínuo ou pode ser leve como um encontro casual, o que o caracteriza é que nele há algum sentido de eternidade (mesmo que efêmera).
Eles, atavicamente falando, são caçadores, predadores. Nós, o seu contraponto. A mulher é quem mostra ao homem aquilo que ele não é, e nisso está o sentido da busca e do prazer do encontro.
Estou conversando muito com a nossa ela e perguntando sempre, como mulher: "Queremos ser a carne disponível ou a experiência de troca afetiva que diferencia o ser humano do animal?" Se quisermos ser gente é só poder implodir a cada decepção para renascer igualmente crédula, pois, acreditemos ou não há muitos homens por aí muito cansados de serem tratados como objetos, com estrutura para relacionamentos mais intensos. Mas... isso é assunto para outro texto...
Quanto a ela, bem, acaba de me dizer que está refeita, que logo logo é segunda-feira, o melhor dia para ter esperança e recomeçar.
Um abraço,
Mariana Salerno
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